Salas de leitura transformam vidas de jovens em Paragominas

0

Quem vê José Henrique quietinho, sentado na Sala de Leitura da Escola Municipal Maria da Silva Nunes, em Paragominas, não imagina que este adolescente já foi o garoto-problema da escola. Era hábito matar aulas, tirar notas baixas e até, repetiu de ano algumas vezes. A família chegou a procurar a Escola para pedir ajuda. E foi aí que a história de José Henrique começou a mudar.

 Com a convicção de que a leitura é capaz de proporcionar conhecimento e despertar o interesse para os estudos, a professora Regina Fernandes percebeu que poderia incentivar seus alunos a ter bons rendimentos e o hábito de ler, por meio das salas de leitura. E foi com esta convicção que Regina apresentou os livros a José Henrique, que, de garoto-problema, tornou-se um aluno destaque e frequentador assíduo da Sala de Leitura.

 Com paciência, atenção e muita conversa, Regina iniciou um trabalho com o aluno. José tinha dificuldades de ler, não possuía uma boa interação com o restante da turma e não gostava de assistir as aulas. Então, Regina deduziu que precisava despertar o interesse do aluno e apostou que um bom livro poderia fazer isso. Teve a ideia de presenteá-lo com uma literatura muito famosa entre os adolescentes. “No final de 2015, decidi presenteá-lo com o primeiro volume [de seis]da série ‘The Walking Dead’, com a proposta de que, se ele lesse e gostasse, iria retornar comigo para ler o próximo volume. Sabia que o livro fazia parte de uma coleção e que caso a leitura o interessasse, ele iria querer ler o próximo”, explica.

 Hoje, o jovem afirma que lê pelo menos três vezes por semana e pretende presentear a professora, e agora amiga, com um mangá, nome dado às histórias em quadrinho japonesas. As salas de leitura são espaços projetados desde o início da construção das escolas, com o objetivo de despertar o interesse pela leitura. Ao todo, 36 escolas em Paragominas possuem acervo literário e 28 contam com a sala de leitura, que atende cerca de 27 mil alunos do município.

 Diferente das bibliotecas que, no geral, prezam pelo silêncio dentro do espaço, as salas leitura trabalham com projetos, aulas e outras iniciativas voltadas para a discussão de temas interessantes. O acervo possui conteúdos de várias disciplinas, mas mantém o foco em alguns gêneros literários, como infanto-juvenil, poesia, contos, crônicas, ficção, contos fantásticos e romances.

Sobre o funcionamento das salas de leitura, a diretora da escola municipal Maria da Silva Nunes, Vânia Nunes, conta que as salas ficam abertas durante o horário de funcionamento das escolas, mas reforça que elas devem ser utilizadas durante o horário de atividades dentro da sala de leitura ou nos intervalos das aulas, para não prejudicar as demais atividades escolares.

 A diretora também afirma que, mesmo antes de passar pela alfabetização, a criança pode ter acesso ao espaço, mas que a faixa etária tende a variar de acordo com cada escola.  “Assim que o aluno se matricula na escola, a criança tem direito ao acesso às salas de leitura. Se a criança ainda não sabe ler, ela pode ver as imagens e contar com o auxílio da professora, que poderá ler o livro e ajudar com a interpretação da leitura. O importante é que essas crianças e adolescentes sejam incentivados a ler e participar das rodas de conversa”, aponta.

 Dentre as iniciativas realizadas nas salas de leitura, existe o projeto “Momento literário”, que funciona geralmente a cada 15 dias e valoriza os alunos que mais frequentam o espaço. A ideia do projeto é promover um encontro no qual os alunos e professores podem compartilhar um pequeno resumo de leituras que consideram interessantes e incentivar o diálogo entre docentes e discentes, a fim de motivar o hábito de ler.

 A prefeitura do município acredita que as salas de leituras são grandes aliadas para elevar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Paragominas. O índice é calculado com base no aprendizado dos alunos em português e matemática (Prova Brasil) e no fluxo escolar (taxa de aprovação).

 “Atualmente, um dos principais problemas que enfrentamos para aumentar o Ideb é, justamente, a leitura e interpretação de textos, uma vez que a prova Brasil é baseada nesses dois pontos. Todas as questões da prova, tanto de língua portuguesa quanto de matemática, são contextualizadas, então quando o aluno não tem afinidade com a leitura, ele certamente apresentará dificuldade de responder e terá um rendimento regular. Por esse motivo, acreditamos que a leitura é uma das principais ferramentas para atingir bons resultados futuramente”, explica a diretora da escola.

Compartilhar:

Os comentários estão fechados.

Acessibilidade