A dependência de fontes não renováveis, como o Petróleo, ameaça a capacidade de produção energética mundial e, principalmente, o clima do planeta que carece ainda mais de inciativas sustentáveis. A solução para o problema energético do Brasil pode vir do Pará. Nesta quarta (24), ocorreu em Paragominas a assembleia de constituição da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável (Coober), a primeira desta natureza no país. A iniciativa tem a apoio institucional da Confederação Alemã de Cooperativas (DGRV), do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Pará (OCB-PA), da Secretaria do Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) e da Prefeitura Municipal de Paragominas.
O processo de funcionamento da cooperativa está em fase de planejamento. Após a formalização legal da Coober, os cooperados farão uma análise técnica para definição de qual linha energética será trabalhada. São três possibilidades: produção fotovoltaica, utilizando os raios solares; A biodigestão, gerando energia através de biodigestores e a produção eólica. Existe ainda a possibilidade de se combinar uma produção híbrida, captando energia solar e eólica.
A cooperativa é formada pela iniciativa de 22 profissionais de diversos setores da economia. A priori, a energia produzida será apenas para a autogestão dos cooperados. Será implantada uma usina que fará a distribuição para cada residência. O local da usina ainda será definido. O investimento para a obtenção de tecnologia será na faixa de R$ 0,5 milhão. A previsão de inauguração é até o final de 2016. “Na nossa cooperativa há advogados, biólogos, engenheiros agrônomos, eletricistas e civis, médicos, odontólogos, empresários, economistas, contadores e geólogos. Nosso objetivo é produzir a energia que cada um consome. Somos um grupo de amigos que tem a visão de um mundo diferente que terá a produção descentralizada de energia e de uma forma renovável, como hoje é Alemanha. Cerca de 30% da energia produzida pelos alemães é de fonte renovável. Eles estão entre os dois maiores países produtores de energia solar do mundo”, afirma Raphael Vale, presidente e idealizador da Coober.
Para Raphael, o estado do Pará é um espaço muito favorável para a captação de energia renovável. “O melhor local para captar energia solar na Alemanha é 40% inferior ao pior local do Brasil. Se na Alemanha é possível, que está bem mais distante da linha do Equador, o Pará é um ambiente muito mais propício. Temos um nível de radiação muito maior, nosso projeto é completamente viável economicamente. Temos um potencial grande a ser explorado e em cooperativa fica tudo mais fácil. Vamos deixar de ser consumidor e não só produtor, mas ‘prosumidor’, que é a mistura do consumidor com o produtor. O mundo e a economia futura como um todo é colaborativa. É uma ação visionária. Vamos contribuir para diminuir o impacto ambiental e as mudanças climáticas, servindo de exemplo para outras iniciativas. A abrangência do nosso projeto já é nacional. Um dos cooperados é cearense e estamos planejando nosso segundo núcleo em Fortaleza, que tem um enorme potencial tanto de energia eólica quanto solar”.
A Organização das Cooperativas Brasileiras, em negociação com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), possibilitou a viabilidade da cooperativa. “Antes, cada cidadão poderia produzir energia renovável isoladamente em sua residência. A OCB se posicionou frente à Aneel para a adaptação de legislações que permitissem a inserção de uma cooperativa nesse mercado e, desta forma, que ela funcionasse sem problemas. A Agência decretou um Marco Regulatório da atividade, permitindo a concessão de funcionamento às cooperativas. A portaria da Aneel entra em vigor a partir de março”, afirma o Presidente do Sistema OCB-PA, Ernandes Raiol.
Os investimentos nessas fontes de energia vem aumentando e deve ser ainda maior após acordo firmado recentemente entre os países na Conferência do Clima (COP 21), realizada em Paris, para reduzir as emissões de poluentes que causam o efeito estufa e o aumento das temperaturas no mundo. Além de terem um custo menor do que as hidrelétricas, projetos de energia renovável têm um processo de implantação mais rápido, com a obtenção de licenças ambientais mais simples do que as térmicas e hidrelétricas.
Apesar da a energia gerada pelas hidrelétricas ainda corresponder a 80% da matriz energética brasileira, a energia eólica é a que mais cresce atualmente. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), em seis anos a capacidade instalada deve aumentar quase 300%. O setor eólico deve passar dos atuais 3% da matriz energética brasileira para 8% em 2018. “Essa cooperativa é a 1° do Brasil nesse modelo de energias alternativas e vem ao encontro da nossa necessidade de geração de energia limpa, renovável, sustentável e mais barata para o consumidor final. A partir dessa cooperativa, estão em vias de constituir outras da mesma natureza na Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Faremos um manual em que essa cooperativa será o case”, afirma Marco Morato, analista da OCB do ramo Infraestrutura e Meio Ambiente.